sábado, 17 de abril de 2010

2ª. Guerra Mundial, Soldado Brasileiro um Exemplo de Cidadania!

Havia uma tropa que não distribuía a comida que sobrava nem queimava o excedente para evitar contaminações. Ela dividia sua comida com os habitantes e as crianças entravam na fila antes dos soldados. Eram os brasileiros.

Sergio Paulo Muniz Costa

(Folha de São Paulo) - No momento em que o Estado brasileiro ainda debate sobre o cumprimento de um acordo diplomático de extradição com a Itália, a respeito do senhor Cesare Battisti, é oportuno destacar que ontem, dia 14 de abril, completaram-se 65 anos daquela que pode ser considerada a maior vitória da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária nos campos de batalha da Itália.
Montese foi o pontapé nas dobradiças que ajudou o 4º Corpo de exército norte-americano a arrombar uma porta da linha Gêngis-Khan, a última linha defensiva germânica. Foi a primeira grande vitória obtida exclusivamente pelos brasileiros, da maneira brasileira, com a participação de batalhões dos três grandes e tradicionais regimentos de infantaria originalmente sediados nos Estados de São Paulo (o 6º), Minas Gerais (11º) e Rio de Janeiro (1º).

A manobra continha a ideia da moderna infiltração, hoje familiar à nossa infantaria, e o êxito em muito se deveu à ação audaciosa do pelotão do tenente Iporã Nunes de Oliveira, do 11º RI, de Minas Gerais.

Surpreende constatar que a passagem das tropas brasileiras no norte da Itália está nítida na paisagem e nas pessoas da região da Emilia-Romanha. Monumentos de eloquente singeleza feitos pelas municipalidades locais despertam emoção em quem lê os agradecimentos pela participação brasileira na luta pela liberdade e pela democracia.

Préstimos e sorrisos se abrem a quem pede informações sobre os locais por onde passaram os brasileiros, e se apontam as alturas onde lutaram "i soldati brasiliani".

O monumento brasileiro no sopé de Monte Castelo está no lugar certo.

Não é preciso conhecer a história ou a ciência militar nem ler o texto correto que ali se encontra, castigado pela neve e pelo vento gelado, para pressentir o campo de batalha, onde honra e sacrifício arrostaram as metralhadoras e morteiros alemães.

Dali, voltando o olhar para o sul, pode-se perceber a famosa estrada 64 serpenteando ao lado do Reno na direção de Pistoia, por onde fluíam para a luta os suprimentos e reforços e refluíam os feridos e mortos. O monumento votivo militar brasileiro em Pistoia é um lugar de paz, ao lado do pequeno cemitério que a comunidade resolveu limitar para dar lugar aos mortos brasileiros que ali repousaram. O pároco local, percebendo brasileiros, apressa-se em lhes entregar lembranças e folhetos do monumento.

O que ficou em todos esses locais por onde passaram as tropas brasileiras? Por que essa memória dos brasileiros, que nem maioria eram naquela Babel de tropas aliadas?

Os números da FEB, segundo padrões brasileiros, impressionam até hoje -cerca de 25 mil homens e mulheres-, mas não eram predominantes. A dimensão do esforço e dos feitos da divisão de infantaria da FEB parece ainda não ter sido notada pelos historiadores brasileiros. Assim, não é de se esperar que o seja por estrangeiros.

Uma pista veio da curiosidade de um adido militar brasileiro, impressionado com a disposição de um italiano em ceder o terreno para acolher um monumento brasileiro. O proprietário, percebendo a pergunta não feita, antecipou-lhe a resposta: "Nós não esquecemos". Havia uma tropa que não distribuía a comida que sobrava nem queimava o excedente para evitar contaminações.

Ela dividia sua comida com os habitantes e as crianças entravam na fila antes dos soldados. Eram os brasileiros.

Após a rendição alemã, o Brasil declinou do oferecimento de um setor de ocupação aliado na Áustria. Fez bem. Das guerras, o país ficou apenas com lembranças, e, se andou pelo lado certo da história, muito deve à cordialidade, seu traço cultural distintivo.

Mas não foi só isso. Uma sensata tradição diplomática de respeito ao direito internacional deu-lhe credibilidade, um patrimônio a ser preservado com a atuação equilibrada do governo brasileiro nos grandes temas da política internacional. O que, no caso da extradição com a Itália, recomenda o afastamento de qualquer decisão política que ameace a amizade e o reconhecimento dos italianos a tudo aquilo que o Brasil lá deixou em prol dos direitos dos povos.

As lembranças de guerra do Brasil estão vivas no bom combate que travou na luta pela paz. Preservemo-las.

Fonte: Folha de São Paulo

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Audiência Pública em Passa Quatro!

Assembleia pode criar comissão especial da Serra da Mantiqueira

A Assembleia Legislativa de Minas Gerais poderá ter uma comissão especial da Serra da Mantiqueira. A proposta foi lançada pelo deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), durante audiência da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável em Passa Quatro (Sul de Minas), nesta quinta-feira (15/4/10). Os participantes do encontro criticaram duramente a proposta de criação do Parque Nacional Altos da Mantiqueira, considerada autoritária e sem a devida escuta à sociedade. A maior preocupação é quanto aos produtores rurais, que podem ter suas terras desapropriadas, ficando à mercê dos processos de indenização.

Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), que solicitou e coordenou a reunião, enfatizou que o encontro marcou a entrada oficial da Assembleia de Minas nas discussões sobre o parque. Aproveitando a presenças de deputados e prefeitos de Minas e São Paulo, o deputado Antônio Carlos Arantes propôs também a criação de uma comissão, envolvendo ainda o Rio de Janeiro, para tratar do assunto com a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, e com o ministro da Secretaria de Assuntos Institucionais, Alexandre Padilha. Todas as propostas serão encaminhadas por meio de requerimentos na ALMG.

Parque - A criação do Parque Nacional Altos da Mantiqueira é uma proposta do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), autarquia do Ministério do Meio Ambiente. O projeto prevê a conservação de cerca de 90 mil hectares em 16 cidades de Minas, São Paulo e Rio de Janeiro, atingindo seis municípios mineiros. A Serra da Mantiqueira é uma cadeia montanhosa que se estende pelos três estados e compreende um maciço rochoso com grande área de terras altas, entre mil e quase 3 mil metros de altitude. A maior parte da serra, cerca de 60%, encontra-se em terras mineiras.

Prefeitos criticam processo e temem prejuízos financeiros

Vários prefeitos participaram da audiência e criticaram a forma como o projeto de criação do parque foi conduzido. Eles querem a suspensão da proposta. O chefe do Executivo de Guaratinguetá (SP), Junior Filippo, relatou que soube do processo em sua última fase, de audiências públicas. "Se um circo chega na cidade, tem que pedir autorização da prefeitura, mas um parque que usará 15 mil hectares da cidade pode ser criado goela abaixo", criticou. Filippo lembrou que a Área de Preservação Ambiental (APA) Serra da Mantiqueira ainda não tem plano de manejo e que essa luta será priorizada pelo município. A APA foi criada em 1985.

O vice-prefeito de Passa Quatro, Antônio Claret Esteves, afirmou que o parque poderá acirrar o êxodo rural, com impacto nos serviços públicos e na produção de alimentos. Segundo ele, há 30 anos, 30% da população do município moravam na zona rural. Hoje, esse contingente não chega a 10%. "Alguns pontos do projeto também estão confusos, como o mapeamento das áreas atingidas e da zona de amortecimento e o pagamento de indenizações", afirmou. Segundo Claret, 30% da área de Passa Quatro estariam inseridas no parque.

A questão das indenizações foi abordada também pelo prefeito de Piquete (SP), Otacílio Rodrigues. Segundo ele, há produtores que foram desapropriados para a criação das unidades de conservação de Itatiaia e Bocaina e que, até hoje, não receberam por suas terras. Já o prefeito de Delfim Moreira, Carlos Antônio Ribeiro, enfatizou o prejuízo financeiro. Segundo ele, o município tem 59% de suas terras preservadas, com espécies nativas. Por outro lado, 70% de sua renda vêm da silvicultura e 70% da madeira está na área destinada ao parque, onde vivem também 300 famílias.

Deputados condenam decisões impostas

Os deputados também se manifestaram contra a imposição do parque pelo ICMBio. Dalmo Ribeiro Silva lembrou que a edição de um decreto presidencial de criação da unidade deve ser precedida de debate, até mesmo porque sua revogação não compete ao presidente, mas ao Legislativo federal. "Vamos falar com o governador Anastasia, para que haja também uma posição oficial do Governo de Minas", anunciou. Já Doutor Ronaldo (PDT) comparou o problema vivido pelos produtores rurais ao dos atingidos por barragens, que também têm suas terras expropriadas. "É preciso respeito ao cidadão", afirmou.

Antônio Carlos Arantes citou sua própria experiência como produtor rural na região do Parque Nacional da Serra da Canastra. Segundo ele, como as unidades de conservação não têm estrutura de fiscalização e manutenção, as terras ao redor do parque, de propriedade dos produtores, estão mais protegidas. "Se há um incêndio no parque, não há quem apague", exemplificou. Ele defendeu que a União reserve recursos para desapropriações antes de iniciar qualquer processo de criação de parques, como as prefeituras são obrigadas a fazer.

O deputado Carlinhos Almeida (PT-SP) afirmou que recebeu a notícia da criação do parque pela imprensa. Segundo ele, o ICMBio prometeu diálogo, mas isso não se efetivou. "Há 15 dias um grupo técnico que discute o assunto pediu a íntegra do processo. O instituto prometeu entregar em dez dias e ainda não o fez", criticou. Segundo o parlamentar, as autoridades paulistas sugerem a criação de áreas menores de proteção, tendo os produtores rurais como parceiros. Também o deputado Padre Afonso Lobato (PV-SP) afirmou que não questiona a preservação, mas o processo. Segundo ele, a proposta de se fazer um projeto mais participativo não teve sucesso.

ICMBio reconhece erros, mas aponta avanços

O diretor do APA Serra da Mantiqueira, Clarismundo Benfica do Nascimento, que representou o ICMBio na audiência, reconheceu os erros da instituição no passado, mas salientou avanços como a criação do grupo técnico, que vem discutindo o assunto. Segundo ele, a proposta de conservação integral do alto da Serra da Mantiqueira se deve à necessidade de preservar importantes áreas de recarga hídrica e também de vegetação contínua de mata atlântica, que ocorre em 94% da área a ser preservada. "Isso requer um olhar diferenciado", reforçou.

Os avanços alegados pelo ICMBio, no entanto, são questionados pelo arquiteto Urbano Reis Patto Filho, coordenador de gestão estratégica da prefeitura de Pindamonhangaba (SP). Ele participa do grupo técnico e aponta que o material oferecido pelo instituto é fraco e tem apenas dados genéricos e defasados, sem um estudo dos impactos socioeconômicos. "O grupo quer discutir para ter uma proposta ao final do processo. Mas o ICMBio não abre mão do parque", criticou.

Além de Nascimento, do ICMBio, apenas Orlando Mohallem, do clube de montanhismo de Itajubá, defendeu que as montanhas da região tenham apenas produção de água e se destinem exclusivamente ao turismo. "As braquiárias estão tomando conta dos topos de morros", denunciou. Ainda assim, ele defende a preservação, mas não necessariamente na forma de um parque.

Participantes veem relação entre produção e preservação

Vários produtores e representantes de entidades ligadas à agricultura rechaçaram a dicotomia entre produção e preservação do meio ambiente. Eduardo Arantes do Nascimento, da Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Minas Gerais (Fetaemg), citou o exemplo do Rio das Velhas, que é poluído por esgotos de Belo Horizonte, e não pelas plantações ao longo de seu curso. "O campo não pode pagar, sozinho, a conta da preservação", decretou. Segundo ele, unidades de conservação estão sendo criadas para compensar grandes empreendimentos, prejudicando pequenos produtores.

Andreia de Fátima Silva, da Federação da Agricultura de Minas Gerais (Faemg), também criticou o projeto do parque e salientou que ele nem sequer menciona as indenizações. Na fase de debates, produtores também relataram suas ações de preservação e a dificuldade para se conseguir crédito para tocar os negócios, em função da falta de garantias, já que as terras podem ser desapropriadas. Segundo eles, os documentos de posse das áreas são frágeis e dificultarão o recebimento de indenizações.

Presenças - Deputados Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), Antônio Carlos Arantes (PSC) e Doutor Ronaldo (PDT). Participaram ainda da audiência os prefeitos de Marmelópolis, Valmir Alves, e de Virgínia, Edson Ramos; o vice-prefeito de Itanhandu, João Esteves; vereadores da região, o representante do Ministério Público, Flávio Mafra Brandão de Azevedo, sindicalistas e representantes da Polícia Militar.





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