O PT já tem um nome: Dilma Rousseff. Também tem um líder, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na última semana, aprovou uma proposta de programa de governo que prevê, por exemplo, um estado forte e o compromisso com a estabilidade econômica. Até uma polêmica à campanha da ministra-chefe da Casa Civil já existe: a participação de José Dirceu, antecessor da petista no ministério, líder influente no PT, mas que monopoliza os holofotes devido ao escândalo do mensalão. Enquanto isso, no reino dos tucanos, o governador de São Paulo, José Serra, ainda se esquiva do lançamento oficial de seu nome como pré-candidato à Presidência da República.
Pesquisa mostra Serra com 36% e Dilma com 25% A demora — que já irritou o maior aliado do PSDB, o DEM, e as bases do tucanato — agora enerva integrantes da cúpula do partido. “Enquanto a Dilma ocupou lugar de destaque em todos os jornais no fim de semana, nós ficamos assistindo”, diz o senador Álvaro Dias (PSDB-PR). A fala de Dias ilustra o dilema que o PSDB vive. A aparente paralisia de José Serra, deixada um pouco de lado durante o carnaval, provoca inquietude. Aparente porque, nas palavras do presidente da legenda, senador Sérgio Guerra (PE), o governador paulista tem se movimentado nos bastidores. “Posso listar para você, pelo menos, 10 estados em que o Serra está atuando para auxiliar na montagem dos palanques.” Citou seis: Paraná, Pará, Alagoas, Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro.
Essa mobilização de bastidor não está satisfazendo alguns tucanos. Há entre os integrantes do partido um sentimento de que, enquanto os tucanos ainda tocam a sucessão presidencial em compasso de espera, Dilma cresce nas pesquisas e divulga a candidatura governista. “Todo mundo tem a sua hora. Nós temos uma estratégia e vamos segui-la. Não podemos olhar para o lado, ver o que o adversário está fazendo e tentar copiar. Isso não funciona. Temos de confiar no partido nesse momento”, declarou o líder do PSDB na Câmara, deputado João Almeida (BA).
Turbulência Entre as unidades da federação citadas por Sérgio Guerra como alvo da movimentação de Serra, estão aquelas em que um imbróglio político incomoda tanto petistas quanto tucanos. No Rio de Janeiro, no Pará e no Paraná, o PSDB tem centrado esforços mais para embaralhar do que ajeitar o jogo eleitoral. A estratégia atrapalha pretensões pessoais que afloram no tucanato. Ainda assim, Guerra garante que a sigla não está em crise. Para reforçar o discurso, ele passou a repetir como um mantra que ter pressa é bobagem. Para o senador, a movimentação de Serra só deve ganhar corpo após o fim do prazo de desincompatibilização, em 4 de abril.
“Depois disso, Dilma terá que deixar o cargo de ministra e descer para a planície na qual estão todos os outros pré-candidatos. Não adianta começar agora (a campanha) enquanto ela anda com Lula para cima e para baixo, usando a máquina pública para divulgar a candidatura”, disse Guerra. Mas a demora de Serra em assumir sua posição acaba colocando o partido em situações sensíveis. Essa postura e o crescimento dos índices alcançados por Dilma nas pesquisas de intenção de voto inflam os ânimos daqueles que acreditam na possibilidade de Serra desistir da sucessão presidencial.
“Sempre que ela cresce, as pessoas começam a falar disso. Mas é uma besteira”, rechaçou Guerra. “Ele tem um compromisso partidário e tem um compromisso com a biografia também. Essa possibilidade não existe”, endossou João Almeida. Como que para afastar a crise, Guerra continuará repetindo a cantilena da paciência tucana, a fim de acalmar os ânimos dos aliados. “Eu já estive matriculado no bloco dos afoitos. Depois, me convenci do contrário. Mesmo que ele (Serra) se apresente como candidato, não poderá barrar o caminho da outra (Dilma)”, afirmou João Almeida. “Por enquanto, estamos no ‘deixa como está para ver como é que fica’. Mas isso depois pode se tornar irreversível”, alertou o senador Álvaro Dias.
Publicação: 22/02/2010 06:18
Fonte Portal Uai
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