Correio Braziliense
Publicação: 20/11/2010 10:32 Atualização:
O glamour que reveste a Presidência do Banco Central vai acabar. Preocupada com o distanciamento da autoridade monetária de órgãos vitais, como os ministérios da Fazenda e do Planejamento, a presidente eleita, Dilma Rousseff, pretende extinguir o status de ministro conferido desde 2004 ao chefe do BC. O futuro ocupante do cargo não gozará de tal deferência administrativa, decisão que desagrada a Henrique Meirelles, atual presidente do banco.
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A estratégia de Dilma é dar mais unidade à equipe econômica, acabando com um adereço funcional que, segundo técnicos próximos à petista, ficou marcado pelo casuísmo e serviu apenas para afagar o ego de Meirelles. Em campanha declarada para manter-se no posto, o presidente do BC condiciona sua permanência à manutenção da autonomia da instituição. A equipe da presidente eleita que cuida da montagem do novo ministério vê na demanda ares de chantagem, uma tentativa de “apequenar” o BC e de enfraquecer o próximo presidente.
Em reuniões internas com assessores, Dilma tem demonstrado irritação com o comportamento de Meirelles. Para ela, ao sugerir que o BC não terá autonomia durante seu mandato, ele reedita velhas disputas com a Fazenda e sinaliza ao mercado que a condução da política econômica será direcionada e pouco profissional a partir de 2011.
“A autonomia operacional não está em discussão. Isso será mantido. O Meirelles está forçando a barra porque quer ficar. O problema é que cada vez menos as pessoas querem que ele fique”, disse um técnico que acompanha as negociações para a composição do novo governo. O sucessor já estaria definido desde terça: Alexandre Tombini, diretor de Normas e Organização do Sistema Financeiro.
Blindagem
O título de ministro de Estado foi conferido a Meirelles em 2004 por força de uma Medida Provisória editada às pressas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Primeiro presidente do BC a obter essa condição, Meirelles investiu-se do cargo aliviado. A decisão do governo de promover Meirelles ao topo do organograma burocrático foi motivada pela abertura de um inquérito que o acusava de suspeita de sonegação, lavagem de dinheiro, crime eleitoral e remessa ilegal de dinheiro ao exterior. Tais desvios teriam ocorrido enquanto o representante do BC fez parte da cúpula do BankBoston.
A blindagem surtiu efeito. Por causa da nova condição de Meirelles, os processos contra ele migraram para o Supremo Tribunal Federal (STF). Em 2007, depois de muita expectativa e especulações, as acusações foram arquivadas. “O status de ministro teve razão de ser naquele momento e para ele (Meirelles) especificamente. Hoje, não tem mais sentido. Atende só a uma vaidade do atual presidente do BC”, completou o técnico que participa a distância da formação da equipe de Dilma.
Ministro nega impor condições
Na Alemanha, Henrique Meirelles negou, na sexta-feira, ter atrelado sua permanência ao que quer que seja. “Não há condições impostas”, disse à agência Reuters. Segundo ele, Dilma assumiu compromissos públicos de que manterá o BC forte e independente. Uma vez eleita, reforçou, ela não abrirá mão desses conceitos ou cederá a pressões para satisfazer correntes políticas. “Iremos conversar na próxima semana e então eu posso pensar no futuro”, completou o presidente do BC.
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